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Heitor Cotrim

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Heitor Cotrim

Heitor Cotrim: AABB zona sul, o sonho que se tornou realidade

Heitor Pereira Cotrim é um dos quatro Presidentes da AABB que estão vivos. Completou 91 anos em março e freqüenta o Clube não mais com aquela assiduidade de quando atuava como goleiro nas “peladas” dos aposentados, mas, sempre presente aos grandes acontecimentos. Cotrim, um dos grandes beneméritos, participa da vida da AABB desde 1945 e assumiu a Presidência em 1963, num mandato “tampão” com a renúncia de José Bonifácio Gomes de Castro. Ele conta o que viu e participou numa época de efervescência da Associação.

Cassino, Status de Grandeza
Um grupo forte dominava a AABB. Era o Schermann, o Cídio, o Dantas, o Nelson e outros mais. A sede era no Largo de Santa Rita, mas o grande sonho deles era trazer a Associação para a zona sul. Tanto fizeram que conseguiram alugar o Cassino Atlântico, na praia de Copacabana, pagando 40 mil cruzeiros, uma grande soma. E fizeram festas memoráveis. Nós desportistas ressentíamos da falta de campo e quadra para treinar e fazíamos de um dos grandes salões do Cassino quadra de basquetebol ou voleibol. Os bailes de carnaval eram os mais falados da cidade. Com o tempo essas festas começaram a repercutir mal dentro do Banco. A Diretoria foi destituída e Hélio Faria que trabalhava na Presidência do Banco assumiu e eu fiquei como seu vice. O dono do Cassino, não estava satisfeito, rescindiu o contrato e a AABB ficou sem sede. A Diretoria foi ao Banco e conseguiu numerário para adquirir um casarão na Hadock Lobo, 227 onde instalamos a Associação e lá construímos o ginásio.

Terreno da Lagoa
A AABB estava com um movimento razoável e a idéia era fazê-la crescer, contudo perdurava em muitos a vontade de realizar o sonho de vir para a zona sul. E Cotrim conta mais detalhes:
- Alcebíades França Faria era o Presidente do Conselho Deliberativo e trabalhava com o Prefeito do Distrito Federal, Dulcídio Espirito Santo Cardoso, ao tomar conhecimento da doação de terrenos para o Monte Líbano e ao Paissandu, avisou ao Schermann que reuniu seu grupo e conseguiu os 18.000 metros para a AABB. Feita a doação nós não podíamos fazer nada porque o terreno era fofo em face de um aterro feito na Praia do Pinto. Não só nós mas também nossos vizinhos. Dom Helder Câmara chegou e viu o terreno passou a fazer campanha para construir a Cruzada avançando 20 metros nas áreas. Houve discussões homéricas em que entrou o Bispo Auxiliar Don Ivo Caliari. Assumiu a Presidência da AABB o Bonifácio José de Castro que passou a fazer resistência junto com o Presidente do Monte Líbano, Alim Pedro e, este, com o alto prestígio de Prefeito da Cidade, asseguraram os terrenos para suas Agremiações. Bonifácio conduzia muito bem a entidade. Tinha um Flávio Falcão de Araújo “vestindo a camisa” como seu sustentáculo. Flávio, aliás, morreu em frente à AABB, vítima de um atropelamento. Tratamos de murar e tomamos posse definitiva do terreno. Primeiro fizemos uma quadra de basquetebol, onde jogávamos com os amigos da praia. Organizamos um time chamado Atlanta, do qual fazia parte o Cirilo que hoje ainda joga futebol entre os “masters”. Construímos uma sala onde funcionava a boate e toda semana havia uma festinha. Numa delas compareceu o finado Tancredo Neves, que era Diretor de Redescontos do Banco, acompanhado da esposa. A seguir fizemos um concurso junto à Associação dos Arquitetos para conseguir um projeto de construção da sede social. O vencedor foi o arquiteto Frederico que não permitia qualquer alteração na sua concepção original. As obras começaram a todo vapor. Eu tive que assumir a Presidência com a renúncia do Bonifácio. Constitui minha Diretoria com Magno Vice-Presidente Administrativo, Ivan Financeiro e Luis Martins Social. Veio a piscina cuja pedra fundamental foi lançada pelo Presidente do Banco, Carlos Cardoso. A escavação chegou a 15 metros de profundidade, mas conseguimos. A partir de então a AABB passou definitivamente para a Zona Sul. Vendemos a sede da Hadock Lobo para o Satélite Clube, onde hoje ainda está a AABB-Tijuca.

Grandes Eventos
Sobre sua gestão, Cotrim falou:
- Foram 3 anos de muito trabalho para a construção da sede e do ginásio. Havia uma estreita relação entre o Banco e a AABB. O Presidente do Banco, sr. Nei Galvão, que tinha interesses junto a indústria de fogões Walig, doou a cozinha completa da AABB, esta que está aí até hoje. Sede e ginásio prontos criei a Vice-Presidencia de Infanto-Juvenil com o Waldo Viana, que realizou sorvetes-dançantes para os adolescentes. Todo domingo de 5 da tarde às 10 da noite era realizado esse evento com absoluto sucesso. Chegamos a colocar dentro da sede 5.000 pessoas, todos adolescentes. Na época não havia esses problemas de drogas. A meninada se divertia ordeiramente e aproveitava aqueles bons momentos. Sob a coordenação de Miguel Anatalino, fizemos o campeonato interno de futebol da AABB. Reuni mais de 20 equipes de várias dependências do Banco. Nova Iguaçu, cujo diretor de esportes era o Vilarinho, participou e cedeu seu campo. Os times eram conduzidos por um ônibus da AABB. Na parte social, todos os meses fazíamos uma festa de gala convidando um artista de grande cartaz. Aqui cantaram Elis Regina, João Roberto Kely, Elen de Lima, Elizete Cardoso e muitos outros. Elis na época cobrou cachê de 3 milhões de cruzeiros. Como tínhamos o apoio do Banco e mais a venda das mesas os custos eram cobertos. De outra feita convidei a Miss Brasil 1965, que compareceu e abrilhantou a um grande e inesquecível baile. Pelo setor cultural fizemos festas com a presença do cônsul da Finlândia, homenageando Dante Aligheri e depois outra com a presença do embaixador do Senegal. Todo aniversário da AABB oferecíamos um almoço à Diretoria do Banco e o Conselho Fiscal e todos dos diretores compareciam juntamente com o Presidente do Banco, dr. Luiz de Morais e Barros. Participavam mais de 100 pessoas. Depois em outro dia realizávamos o baile comemorativo do aniversário.
Sua visão hoje, em contraponto com o passado:
- No meu tempo a gente conseguia muita coisa do Banco. Durante a construção do ginásio fiquei preocupado com o acompanhamento da obra. Meu horário no Banco era de 9:20h às 16h; fui à Presidência e procurei o Hélio Barroso que era secretário do Carlos Cardoso. Expliquei que uma obra daquele vulto não podia ficar só na mão da construtora e pedi para designar um funcionário. Ele perguntou se eu ia continuar como Presidente, mas avisei logo que apesar da insistência dos companheiros eu não concorreria à reeleição. Então você agüenta até a eleição que o novo Presidente ficará à disposição. Elegemos o Silvio Amorim e a partir daí a AABB, até hoje, sempre teve um funcionário da ativa à disposição. Eu consegui isso. Depois que o Banco cortou os subsídios a maioria das AABBs faliram. Só uma meia dúzia se sustentam hoje só com as mensalidades do quadro social. A AABB-Rio felizmente está entre elas.

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Vista aérea da sede da AABB-Rio sendo construída.

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